Em 1934, Edward e Josephine Hopper compraram um pedaço de terra em frente à baía de Cape Cod com o objectivo de aí construirem aquela que seria a única propriedade do casal. A casa-estúdio de Edward Hopper em South Truro, um edifício pequeno, simples e anónimo, refletia a personalidade do artista (como já foi comentado em várias ocasiões). Está situada no topo de uma pequena colina, como as casas das suas pinturas. Sobressai numa paisagem de beleza única, coberta por uma luz especial, a luz de Cape Cod.
Cape Cod foi para o pintor uma descoberta. Encontrou-o em 1930 e, quatro anos mais tarde, elegeu o local para construir a sua casa-estúdio, quase da mesma forma como o haviam feito os primeiros colonos ingleses três séculos atrás, quando ocuparam aquelas terras.
Durante muitos anos a casa permaneceu no anonimato; primeiro, devido à sua localização isolada, longe dos lugares de passagem – provavelmente o principal motivo que terá levado casal a escolher este lugar – e, mais recentemente pela falta de documentação do registo da sua existência. Todos estes fatores converteram a casa num lugar enigmático e desconhecido. Pretende-se, com esta investigação, revelar o papel que esta simples peça de arquitetura representou na vida do pintor, a nível pessoal e profissional. Foca, particularmente, a forma como influenciou a sua obra, desde que o casal, para lá se mudou em 1934, inicialmente para passar os meses de verão.
A casa de Hopper em Cape Cod é a soma das suas experiências e momentos pessoais: a água do rio Hudson, onde se situava a casa do pintor em Nyack, a luz que descia das clarabóias do teto do seu estúdio de trabalho em Nova Iorque, o posicionamento levantado das luzes refletidas nas suas telas, ou as grandes janelas abertas para a paisagem, evocando as caixas cénicas das suas pinturas.
Estas cenas são as que o autor reproduziu no seu trabalho. As suas pinturas foram usadas como modelos, onde o artista jogou com a arquitetura, a luz e a paisagem. O pequeno edifício de Cape Cod guarda todos os tesouros que Hopper foi recolhendo daquela região para as suas pinturas, assim como experiências de vida de outras casas onde viveu. Todos estes elementos foram usados pelo pintor para conceber este espaço íntimo para viver e para pensar: uma cabina para pintar.
Cape Cod e a casa serviram também como pretexto para Hopper fazer experiências e jogar com a arquitetura e a paisagem. Enquanto arquiteto, levou a cabo uma renovação tipológica da arquitetura tradicional da região conhecida por “Cape Cod House”reinterpretada na casa do artista, com base nos seus valores de identidade e em continuidade com a história do lugar. A construção da casa coincidiu no tempo com outras tendências e movimentos seguidos por discípulos e mestres da Bauhaus e do Movimento Moderno. Estas forças transformaram este lugar e a sua arquitetura num laboratório de ensaio e experimentação das ideias do modernismo.
A casa-estúdio de Hopper foi o resultado de um processo de pesquisa e experimentação de projetos iniciados anos atrás pelo pintor. É um cruzamento das casas e de outros lugares habitados pelo artista ao longo da sua vida. Tornou-se também num refúgio para Hopper e a sua mulher Jo. Aí regressavam todos os verões, à procura da luz da paisagem que o pintor iria imortalizar nas suas obras. Um espaço que, sem dúvida, influenciou de forma definitiva a sua vida e a sua criação artística.