Com o objetivo final de conseguir que a paisagem da produção sustentável seja desejável, a primeira parte desta tese de doutorado estuda as teorias que explicam o surgimento da ideia de paisagem, a construção cultural da idéia de beleza e ferramentas para implementar visões poética aos territórios do pragmático.
Os processos artealização in visu e artealização in situ descritos por Alain Roger para entender a idéia de paisagem na sua definição clássica, podem ser extrapolados para outros contextos para fomentar o surgimento de novas paisagens desejáveis.
As obras de Nicolas Poussin ou Claude Lorrain, como artealizações in visu, exemplificam de forma paradigmática a construção de um aparato estético no território da pragmática. Entre as numerosas artealizações in situ, que mais tarde aplicam esse dispositivo estético, estão as vilas e jardins ingleses do século XVIII, como o Chiswick House.
Encontramos também relações de artealização evidentes no século atual. Um exemplo são as fotografias que antecederam a intervenção de Diller e Scofidio et.al. na High Line of New York. A documentação das variações sazonais da vegetação que havia crescido nas vias abandonadas serviu como uma artealização in visu para a transformação in situ da linha férrea em um jardim público elevado e selvagem.
O corpo principal deste trabalho é a documentação de paisagens produtivas contemporâneas e cenários necessários diante da atual crise tripla (ambiental, energética, financeira), em um cronograma com as intervenções de artealização correspondentes. Uma leitura ao longo e através desse cronograma nos permite aceitá-los como algo necessário, pré-existente e, finalmente, desejável.
O catálogo de paisagens produtivas reúne onze categorias: (1) ecossistemas administrados, (2) jardinagem produtiva (3) escalas de agricultura e território, (4) digestões pesadas, (5) gestão de resíduos, (6) resíduos inertes, (7) limpeza de água, (8) coleta de água, (9) paisagens mecânicas e energéticas, (10) infraestrutura, e (11) armazenamento e barreiras de energia.
Cada categoria inclui um cronograma que ordena dezenas de exemplos em uma genealogia tipológica, um mapeamento das revoluções tecnológicas e semânticas através das quais tipologias de paisagem foram sucessivamente substituídas por outras.
Por exemplo, a questão da limpeza da água, abrange os primeiros exemplos de filtração de água na Índia em 2000 a. C; destaca uma das cenas que decoram as paredes da tumba de Amenófis II em Tebas, em que duas figuras são mostradas interagindo com um dispositivo de filtração de água de coagulação; à medida que avançamos, encontramos o mapeamento das fontes de água de John Snow, depois da epidemia de cólera em Londres, as eco-máquinas de John Todd, a planta de tratamento de água del Besós em Barcelona, estruturas zoomórficas de fitodepuração do artista Noel Harding, o parque La Gavia de Toyo Ito, culminando com COSMO, a intervenção no pátio do MoMA PS1 de Andrés Jaque em 2015.