'150%'
Reduzir o consumo de terra, o consumo de novos territórios, sem diminuir o crescimento da população, resulta num aumento matemático da densidade das áreas construídas. Normalmente, esta fórmula traduz-se no aumento da altura de novos edifícios, substituindo os existentes ou, alternativamente, criando novas áreas de expansão. Mas, e a cidade já construída? Podemos agir sob estas premissas sem destruir as anteriores?
Reciclagem é dar uma nova vida ao antigo. Muitos espaços urbanos de baixa densidade suportariam ou melhorariam as suas condições com a injeção de novos espaços habitacionais ou com o aumento da superfície das habitações existentes destinadas a melhorar as condições sociais dos seus habitantes. Áreas de pouco uso, vazias, sem a densidade necessária para gerar vida urbana: centros históricos densamente povoados, urbanizações ajardinadas, expansões de baixa altura, complexos residenciais...
A reflexão geral que se propõe é baseada na aplicação deste questionamento a áreas já construídas. Atuar sobre edifícios existentes colonizando as suas coberturas, suspender ou aplainar as suas fachadas e dotá-las de espaços habitados, construir sob novas óticas de maior densidade em espaços específicos de qualquer cidade... sobrepor; injetar novas densidades nas áreas urbanas: aumentar a sua densidade edificada em 150%, que é o objetivo proposto, sem perder de vista que a razão última é a reciclagem da cidade existente; a poupança no consumo de novos terrenos. Compreender que uma alternativa à sustentabilidade ambiental dos solos é reutilizar os existentes mais intensamente. Algo como o que acontece com as folhas. É melhor usar as duas páginas do que nos limitarmos a usar apenas uma reciclada...
Localização
Será escolhido um local adequado na cidade de origem ou na cidade anfitriã. No momento de selecionar a localização, deverá analisar as condições de densidade atuais. Propor alternativas para sobrepor novas densidades edificadas. Melhorar as condições dos espaços públicos. Gerar novos espaços de reunião. Embora a área selecionada possa cobrir um amplo contexto: uma praça, uma rua ou o espaço entre os edifícios... do que, finalmente, se trata é de desenvolver uma ampliação concreta num edifício específico. É interessante oferecer a imagem geral numa fotomontagem ou em desenhos, mas fundamentalmente, insistimos, é o desenvolvimento de um projeto concreto sobre uma edificação específica.
Algumas referências para tornar as questões um pouco mais concretas.
Nos anos sessenta, Jean Louis Chaneac avançou as suas propostas para uma arquitetura insurrecional baseada na rebelião contra a máquina burocrática e na promoção da construção de "células piratas" que, penduradas nas fachadas existentes dos complexos residenciais ou instalando-se como parasitas clandestinos nos telhados desses edifícios, invadiram literalmente as suas superfícies como um fungo descontrolado. Para ele foi uma proposta ele denominou de "anarco-arquiteturalismo"; um movimento que promove uma insurreição a favor da melhoria das condições de vida dos inquilinos devido ao notável aumento das suas áreas de superfície.
Mais recentemente, Lacaton e Vassal estão projetam e executam ações em complexos residenciais visando a sua reabilitação e extensão. Uma percentagem alta das habitações das nossas cidades faz parte dos polígonos que foram desenvolvidos, principalmente, desde a segunda guerra até aos anos oitenta. Muitos destes complexos residenciais não satisfazem hoje as condições de vida mais adequadas. A proposta de Lacaton e Vassal procura melhorar as suas condições construindo peles habitadas de determinada espessura.
Mas não é apenas nas ações sobre os complexos residenciais que a aplicação - embora certamente reduzida - desta investigação sobre os princípios simultâneos de transformação e aumento da densidade pode ser encontrada. Também sobre a própria cidade consolidada. Para citar um exemplo recente, este seria o caso da proposta Roof-Top Urbanism da equipa chinesa Urbanus, na qual se incluem novas construções em cima de construções existentes...
Proposta
Estas são refleções que hoje nos interessam a todos e que constituem um caminho a investigar sempre a partir da premissa de que o objetivo final seria reduzir o consumo de terra, preservar o território e, ao mesmo tempo, reciclar o que já existe.
No que diz respeito ao nível de investigações e trabalhos, estas devem mostrar a incidência das novas densidades sobre o edifício existente, ao mesmo tempo que apontam os modelos habitacionais propostos de acordo com o seu sistema construtivo e estrutural, especialmente no que diz respeito à inter-relação com as estruturas existentes; o sistema particular de adição proposto. Seja com módulos leves que utilizam materiais leves, em linha com alguns pré-fabricados leves, como o Loft Cube da Werner Aisslinger, ou elementos existentes no mercado, como contentores ou sistemas mais abrangentes em que a própria estrutura serve de estrutura de suporte para as células habitacionais.
O novo espaço doméstico, que se soma ao existente, pode ser formulado como uma ampliação dos espaços habitacionais incluídos nos edifícios que são tomados como base de trabalho ou como células de alojamento concebidas para um jovem utilizador, mais fáceis de imaginar em contextos de transformação e reciclagem como aqueles que se pretende alcançar.