A criação do Centro Interpretativo do Vale do Tua (CIVT) faz parte de um programa mais abrangente ao abrigo das medidas de compensação associadas à construção da barragem de Foz Tua. A sua finalidade é permitir que os visitantes conheçam a história e transformação do vale.
O CIVT está alojado em dois antigos hangares desocupados, separados por carris e muito diferentes entre si, na estação ferroviária do Tua. Em pleno Douro Património Mundial da UNESCO e no Km 0 da Linha do Tua, a oportunidade de desenvolver o projecto deste pequeno equipamento representou para nós uma grande responsabilidade pelas expectativas e pelo lugar que encontramos.
No cumprimento dos objectivos do projecto, outro aspecto que consideramos essencial foi utilizar esta obra como âncora para uma requalificação e contribuição positiva para o pequeno núcleo construído, clarificando volumetrias, simplificando linguagens arquitectónicas e expandindo para o espaço público gestos que possam ter seguimento.
Perante a intervenção em dois edifícios, quisemos dar a cada um deles uma identidade singular e complementar.
Em síntese, e com uma economia substancial de meios, a pele de zinco demonstra que é possível mudar completamente um edifício sem o descaracterizar e alterar o uso sem trair a identidade dum lugar.
No hangar centenário, que foi recuperado “tábua a tábua” com próteses pontuais, instalou-se essencialmente a parte do programa dedicada às exposições temporárias e o grande espaço de acolhimento aos visitantes com uma pequena loja.
Perante um edifício com uma linguagem arquetipal, a fachada poente foi alterada para caracterizar a entrada e potenciar a relação com a paisagem. A intervenção implicou também a criação de novas plataformas exteriores de acesso e um desenho mais assumido ao nível do tratamento do espaço público e da ligação com a rua.
Do ponto de vista construtivo, a aplicação dum forro interior em madeira nova, mas escurecida, permitiu introduzir o isolamento térmico e uma caixa de ar que com a colocação de uma série de delicados caixilhos em aço e vidro no espaço entre o final do forro e as telhas nos alçados norte e sul, criaram as condições de conforto necessárias. Para finalizar a intervenção, foi instalado o programa complementar de sanitários e arrumos num volume/contentor abstracto em madeira que não toca no existente, permitindo a leitura integral do espaço e a valorização da sua estrutura original com os diversos tempos de intervenção perfeitamente identificados.
O edifício do CIVT do lado norte da linha, foi intervencionado mais profundamente, de acordo com o programa ambicioso. Procurou-se explorar uma relação mais directa com a estação do Tua que se reflecte desde logo na ligação criada entre a nova fachada poente com o espaço vazio em frente, no delicado passadiço metálico de acesso – que atravessa um pequeno jardim já existente com peças de uma certa arqueologia ferroviária, e uma abordagem mais contemporânea no tratamento da pré-existência (entretanto reconstruída após um incêndio em 2009).
O revestimento de zinco do edifício conciliou duas escolhas quase antagónicas para nós: a aplicação dum material que se funda com o carácter industrial deste sítio (o imaginário do mundo ferroviário, com as carruagens, os depósitos, etc.) exprimindo ao mesmo tempo uma dimensão nobre em consonância com o estatuto do Douro como Património Mundial da UNESCO. Neste sentido, procurou-se a proporção e escala adequada na definição de painéis canelados de zinco que foram instalados na cobertura e nas fachadas, reinterpretando métricas e texturas presentes no hangar de madeira, do outro lado da linha do Douro, uniformizando os diferentes tempos de construção deste edifício.
A área foi ampliada de acordo com os limites impostos pela circulação dos comboios, a fim de abrigar todo o programa. A eliminação das plataformas laterais permitiu a construção de uma parede espessa que integra uma caixa de ar, posicionada por trás do revestimento de zinco, produzindo assim ventilação natural, e minimizando o uso de equipamentos de ar condicionado. Esta subtil expansão transversal libertou mais espaço para as áreas de exposição de longa duração alojadas neste edifício.
A exposição disponibiliza informação de forma acessível e didáctica, recorrendo a elementos gráficos, multimédia e interactivos organizados em 3 núcleos temáticos. O primeiro, na sua forma, evoca um túnel da antiga linha de comboio do Tua, levando o visitante a iniciar uma viagem sensorial pelo Vale, onde a Biodiversidade, a Geomorfologia e o Património se revelam através de filmes, imagens e cheiros. No segundo é contada, através de documentação e imagens, a história da construção da linha de comboio de Foz Tua a Mirandela. O terceiro apresenta o projecto de construção da barragem de Foz Tua.
No piso superior organizaram-se os espaços para o serviço educativo e as restantes salas de trabalho num mezanino.