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Eileen Gray: diseño y arquitectura para una nueva forma de vivir

 

Pioneira, visionária. Criativa incansável. Camaleónica, experimental, multidisciplinar. Admirada e invejada e, no entanto, invisível e esquecida. Independente, enigmática, cativante, abertamente bissexual.

Eileen Gray (1878-1976) foi uma dessas pessoas que deixam a sua marca. Uma artista, designer e arquiteta irlandesa à frente do seu tempo - ou fora do seu tempo -, que criou peças icónicas de mobiliário e obras-primas da arquitetura moderna. A sua história foi intensa e fascinante. Uma história que, 45 anos após a sua morte, vale a pena descobrir e recordar.

Do artesanato à modernidade
Com apenas 24 anos, Eileen Gray mudou-se para Paris para se dedicar ao projeto e escapar às convenções sociais e de género. Ali entraria nos círculos lésbicos da cidade, líderes da vanguarda artística, e abriria a sua própria loja de móveis sob o pseudónimo masculino de Jean Désert.
As suas obras moviam-se entre a tradição e a vanguarda, o artesanato e a modernidade.1 Gray experimentava e, com a sua identidade própria, ecoava a atualidade. Estabelecia ligação com as tendências ou ultrapassava-as. Enquanto que na Alemanha se estabeleciam as bases do mobiliário moderno, na Bauhaus2 e especialmente pela mão de arquitetos como Marcel Breuer ou Mies van der Rohe3, em paralelo e a partir de Paris, Gray também o fazia, com criações que entraram para a história de projeto de produto, como a mesa ajustável, a poltrona Bibendum ou a Non-conformist chair.4
Arquitetura a partir do interior5
Neste contexto, algumas mulheres começavam a esculpir um nicho no âmbito do projeto e da arquitetura.6 Eileen Gray, Charlotte Perriand7, Lilly Reich. Mas não era um caminho fácil.8 O poderoso arquiteto fazia o importante. O edifício, a fachada, a estrutura. Ou seja, a parte robusta, duradoura e visível da arquitetura. Quando muito, deixavam a pequena escala, o design de interiores e a decoração para as mulheres. O espaço doméstico e efémero.
De facto, o design de interiores era o assunto pendente da incipiente arquitetura moderna de Le Corbusier. Eileen Gray criticava este descuido: "A arquitetura exterior parece ter absorvido os arquitetos avant-garde à custa do espaço interior. Como se uma casa devesse ser concebida por fora para os prazeres do olho e não para o bem-estar dos seus habitantes." Considerava que a pobreza da arquitetura racionalista se devia à sua falta de sensualidade e empatia, porque tudo era dominado pela razão: "A casa não é uma máquina de viver. É uma extensão de quem a habita."9
Então, a irlandesa decidiu tomar o assunto nas suas próprias mãos. Em 1926 criou a sua primeira obra arquitetónica, a casa E-1027, para ela própria e o seu companheiro Jean Badovici. Aí começou a arquitetura pelo interior. De dentro para fora. A partir da vida e da alma. Concebeu-o absolutamente tudo, até o último detalhe - espaço, textura, luz, cor, mobiliário, tapetes, grafismos -, criando um projeto funcional, sensual, dinâmico, flexível e coerente. Fundiu as escalas até não ser mais possível diferenciar entre mobiliário e edifício; entre decoração e arquitetura. Pela primeira vez, o moderno chegava ao interior. Passando da máquina de habitar ao móvel habitado, com instinto e sensibilidade.
Uma nova forma de viver
Eileen Gray convida-nos a uma viagem10. Rumo à libertação e a sensualidade do lar. Rumo a uma nova forma de vida, longe da estrutura estandardizada e da família nuclear. Na sua obra, o movimento está em toda a parte. Os espaços são flexíveis e pouco definidos; os móveis ajustam-se e transformam-se para se adaptar aos seus habitantes. O edifício está aberto à interpretação, não está confinado a restrições normativas. É uma casa não conformista, performativa, em perspetiva queer11. Ou, como ela dizia, um organismo vivo.
Gray procurava a experiência sensorial e corporal do espaço habitado. Queria criar lares que estimulassem os sentidos e a ação do corpo. Algo que também é defendido por Juhani Pallasmaa no seu livro Una arquitectura de la humildad12. O arquiteto finlandês recorda-nos a essência multissensorial da arquitetura e a importância da experiência espacial que dá alento à nossa participação. Assim como "o valor da sensualidade táctil e o erotismo oculto do espaço, os materiais e os detalhes, as cores e a luz, que nos oferecem experiências agradáveis e sedutoras".
Essa é a arquitetura de Eileen Gray. Uma arquitetura humilde, e ao mesmo tempo luxuosa em detalhes, sensações e evocações. Com palavras de Pallasmaa, uma arquitetura que tenta acomodar, em vez de impressionar; evocar as sensações íntimas da domesticidade e do conforto. Que compreende os contextos culturais e sociais, prevê a evolução temporal dos edifícios e nos demonstra o poder da empatia e da imaginação.
A obsessão de Le Corbusier
Por tudo isto, a casa E-1027 é considerada hoje em dia uma obra-prima da arquitetura moderna. Le Corbusier estava consciente disso desde o início. Por isso, despertou nele admiração e inveja, ao ponto de se tornar uma obsessão. De facto, o arquiteto construiria seu famoso Cabanon13 a poucos metros da E-1027 e, num ato de demonstração de poder e dominação, pintaria oito enormes murais nas paredes da casa, sem permissão e contra a vontade de Eileen Gray.14 Além disso, quando o criador da Unité d'Habitation publica os murais na sua obra completa ou em revistas, não menciona Eileen Gray como autora da casa. Torna-a invisível e apaga-a da história. Facto que contribuiu para que, durante décadas, a E-1027 fosse popularmente atribuída a Le Corbusier.15
O paradoxo é que a casa acabaria por ser salva pelos murais. Agora, restaurada com todos os móveis e elementos originais, podemos visitá-la e assim perceber entre essas paredes a frutífera obra e a vida apaixonante de uma mulher que criou o seu próprio caminho, sem parar, sem se conformar. E que, de alguma maneira, nos abriu o caminho a todas e mudou a história do design.

Recursos

Todos estes recursos nos oferecem um panorama muito mais complexo e intenso.

 

Audiovisuales
Eileen Gray
Invitación al viaje
Audiovisuales
Libros
La arquitectura desde el interior, 1925-1937
Lilly Reich y Charlotte Perriand
Audiovisuales
Domesticidad y poder
Eileen Gray y E.1027
Audiovisuales
C. Tangana MIENTE
La casa Corbusier era de la ARQUITECTA E. Gray
Artículos
Tesis
LA SILLA DE LA DISCORDIA.
La pequeña escala como campo de experimentación en la modernidad: Breuer, Mies y Stam

Eileen Gray, pionera de la arquitectura moderna y referente homosexual.

El País, Anatxu Zabalbeascoa

Ler o artigo

Maison en bord de mer: un análisis queer de E-1027 de Eileen Gray.

Katarina Bonnevier

Ver revista

Eileen Gray: una casa bajo el sol.

Charlotte Malterre-Barthes, Zosia Dzierżawska

Ver publicación

Mujeres y arquitectura: asimetrías históricas.

Blog Fundación Arquia. Lucía C. Pérez-Moreno

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Núria Moliner (Barcelona, 1991) é arquiteta, investigadora, comunicadora e música. Dedica-se à divulgação da cultura arquitetónica e à investigação sobre ética social e ambiental na arquitetura, no urbanismo e no design. Atualmente é apresentadora, assessora de conteúdos e guionista da Escala Humana, a série documental de arquitetura da TVE, premiada na Bienal Espanhola de Arquitetura. Também é colaboradora do programa cultural Punts de vista TVE Catalunya, membro do conselho assessor do plano de urbanização Superilla Barcelona e comissária do novo ciclo Architecture Now, para a Roca Barcelona Gallery. Recentemente foi comissária da Bienal do Pensamento de Barcelona e apresentou o documentário Punto de inflexión. Trabalhou para entidades como a Fundació Mies van der Rohe, o Instituto de Cultura de Barcelona, os FAD, Storefront for Art and Architecture NYC, URBANBATfest, Intermediae Matadero Madrid, a Fundação Arquia ou o CoNCA. Participa como comissária, apresentadora e palestrante em festivais, congressos e eventos culturais, comunica en meios audiovisuais e escreve artigos para a imprensa e publicações.
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