O valor da arquitetura tradicional, entendida como a arquitetura construída pela própria comunidade em função das suas condições, necessidades e recursos, reside, em parte, nas técnicas de construção utilizadas, que reflectem todo um processo de adaptação, otimização e desenvolvimento de conhecimentos ao longo dos séculos. No entanto, tanto as componentes materiais como imateriais da arquitetura tradicional estão atualmente ameaçadas pela industrialização, pelo despovoamento, pela perda de conhecimentos, pelo abandono, pela falta de valorização, etc. As paredes mistas de madeira são uma técnica de construção tradicional que combina uma estrutura de madeira com uma função principalmente estrutural e uma vasta gama de materiais e soluções para satisfazer as necessidades de encerramento, revestimento e isolamento dos espaços definidos pela estrutura. Apesar de a arquitetura tradicional espanhola estar associada no imaginário coletivo à arquitetura de adobe e barro, as paredes mistas de madeira são um elemento muito importante da arquitetura tradicional de algumas zonas de Espanha, cuja grande diversidade e variedade demonstram a capacidade de adaptação a condições geográficas, urbanas, arquitectónicas e construtivas específicas. Embora tenham um grande interesse histórico, cultural, etnológico e paisagístico, não foram estudadas com a mesma profundidade que outras técnicas tradicionais espanholas, nem com o mesmo nível de detalhe que noutros países com uma grande presença de muros mistos de madeira, como França, Alemanha, Inglaterra, Portugal, Itália, etc. No contexto espanhol, tanto em tratados históricos de arquitetura e catálogos de arquitetura popular como em estudos mais recentes, as referências às paredes mistas são ocasionais, centrando-se em muitos casos numa região ou tipologia específica e sem aprofundar a forma de construção. Perante esta situação, a presente investigação pretende oferecer uma visão geral das paredes mistas de madeira em Espanha, assinalando a grande diversidade de variantes existentes, examinando o seu estado de conservação e determinando a forma como estão a ser transformadas. Para tal, baseou-se na análise estatística de 1218 casos documentados, distribuídos por todo o território, cuja caraterização progressiva segundo diferentes variantes tipológicas, geométricas, materiais e de acabamento permitiu refletir a frequência e a distribuição de cada um dos tipos identificados, bem como assinalar a lógica construtiva ou razão de ser associada. A comparação entre as caraterísticas das variantes identificadas e as condições geográficas, urbanas, arquitectónicas e construtivas permitiu-nos compreender as razões do seu desenvolvimento e utilização em diferentes contextos. Da mesma forma, dado o panorama de desproteção e risco que a arquitetura tradicional em geral enfrenta, os mecanismos de degradação e as dinâmicas de transformação mais frequentes foram estudados e comparados com as caraterísticas construtivas para compreender a resiliência e a vulnerabilidade da própria técnica e as estratégias utilizadas pelos proprietários para a enfrentar. Desta forma, uma vez conhecidas as paredes mistas de madeira como técnica construtiva, incluindo a sua diversidade e vulnerabilidade, foi possível propor uma série de recomendações e diretrizes para a sua conservação, intervenção e valorização.