Darwin descobriu que todos os seres vivos têm uma origem comum, e que as espécies não só têm tomado formas, mas também comportamentos definidos graças à selecção natural. Em relação ao que nos interessa agora, milhares de espécies animais de todos os tipos (marinhas, terrestres e voadoras; invertebrados e vertebrados) evoluíram a sua própria arquitectura e, como resultado, constroem o seu abrigo. Uma vez que a arquitectura é um dos comportamentos mais difundidos no reino animal, é tempo de nos colocarmos a questão óbvia: porque é que a nossa arquitectura deve ter uma origem e uma natureza diferente das restantes?
Dedicei a minha tese de doutoramento e anos subsequentes a explorar se a arquitectura poderia ou não ser também uma adaptação da nossa espécie, ou seja, um comportamento modulado por um conjunto de emoções específicas e, uma vez entendido que era esse o caso, a estabelecer a sua taxonomia.
Pois era necessário ter em conta o rendimento biológico de certas regularidades do comportamento acima mencionado, isto é, examinar se fazia sentido que as emoções relacionadas com elas pudessem ficar retidas pela selecção natural. Comecei realmente a concentrar-me em tais regularidades quando um conjunto de descobertas científicas recentes — basicamente de biólogos, arqueólogos e paleontólogos— me levou a postular a arquitectura como um possível comportamento inato herdado de espécies precursoras.
As minhas principais conclusões poderiam ser resumidas em três afirmações:
1) Vivemos na arquitectura porque descendemos de uma família (os primatas hominídeos) cujos representantes vivos constroem o seu refúgio em árvores. O primeiro antepassado terrestre do homem foi precisamente aquele que conseguiu adaptar com sucesso a sua morada ao solo.
2) A espécie humana preservou os instintos arquitectónicos dos seus antepassados enquanto desenvolvia novas adaptações arquitectónicas de acordo com a evolução e sofisticação das suas emoções sociais.
3) Das duas afirmações anteriores podemos deduzir a doutrina incipiente de uma estética evolutiva da arquitectura; uma ferramenta capaz de elucidar algumas das falácias, contradições, lacunas e confusões que persistem na estética arquitectónica actual.
Não será necessário inventar novos nomes para designar as sete grandes adaptações ou forças que, manifestando-se sob a forma de emoções e em conjunção com a razão, operam na arquitectura. Estas forças já foram identificadas e tratadas no passado em diferentes teorias de arquitectura e urbanismo. Algumas, como a territorialidade ou o Genius Loci, têm uma legitimidade biológica consolidada. Outras, tais como o sentimento acolhedor ou de aconchego, foram experimentalmente detectadas pela neurociência depois de terem sido previstas no meu próprio texto. Ornamento, pitorescidade, monumentalidade e graça são as outras quatro previsões analisadas neste trabalho sob o prisma evolutivo que, confio, nos podem ajudar a alargar o quadro fascinante da modernidade arquitectónica. Se estas descobertas constituem, afinal, uma contribuição teórica substancial para a nossa disciplina, só o tempo o dirá.