Morar na beira da água. Villas do século XX.
As casas do século XX construídas à beira-mar -enquadramento único e origem da sua expressão- acompanham a topografia do terreno que habitam à medida que descem para a água, e organizam espaços que obtêm vistas do horizonte do mar. O horizonte nos confronta com o desconhecido. A vista para o mar desperta o desejo de explorá-lo, a vontade de viajar.
Originária do otium romano, a presença da água define um modo de vida pacífico e epicurista, que os viajantes da arquitetura -que nos acompanham na tese- traduzem em seus mais íntimos refúgios. Experimentam mudanças de conceitos e técnicas, que são facilmente transferidas para a arquitetura da casa à beira d'água desde o início do Movimento Moderno. Seus espaços de convivência voltados para o mar nos permitem descobrir estratégias comuns em suas respostas mais modernas.
O arquitecto antes do projecto em frente ao mar chega ao local escolhido, olha para o horizonte e, subindo a encosta, coloca-se num ponto estratégico que escolhe; então, na frente de sua prancha, vai no sentido contrário, coloca o lugar e sobre ela desenha os elementos que vão configurar os espaços da casa, procurando aquele olhar para o mar.
As possíveis situações e locais são infinitas; algumas consonâncias espaciais comuns são definidas nos solos que são ocupados devido à presença do mar que nos associamos. A partir da comparação entre todas as casas -emblantes do XX- surgem múltiplas variantes do olhar e dos espaços abertos, e formas de ambientes de fabricação com critérios comuns para dominar a visão do mar. Interiores que se abrem para o panorama, espaços cujas janelas procuram o seu olhar na extensão do horizonte, rescisões e aberturas. Reconhecemos no território as condições a que respondem as moradias, categorias arquitectónicas que respondem ao mar na procura do moderno, da topografia, do olhar e do espaço aberto. As casas partilham a ideia de dominar a paisagem desde o ponto mais alto, sendo que em alguns solos a tipologia inverte-se pela topografia, confirmando assim um critério comum baseado na leitura do terreno em consequência da procura do espaço de o encarar.
Os espaços abertos são significados em todos eles, são espaços abertos ao ar livre, alguns envoltos, outros em pórtico, portas do horizonte que se abrem para o exterior, no telhado da casa, outras cobertas e abertas, espaços entre o interior e o exterior, em plataformas com terraços ou pátios envolventes, recintos ou divisões abertas.
Descobrimos uma conquista do XX nos espaços positivos ou negativos que traduzem ou brincam com o ambiente, que ocupam ou subtraem dos contornos construídos e que obtêm espaços intermédios na procura da relação com o mar.
As ferramentas utilizadas são os desenhos dos autores, das casas visitadas, a lista dos viajantes e suas viagens, o conhecimento do estudo dos projetos. Por comparação por aproximações parciais, os desenhos definem o olhar para o mar, o modo de ocupação e a forma de relação com a paisagem.
A arquitetura de morar em frente ao mar no século XX, feita por arquitetos, topografa o terreno e constrói o olhar, fabricando espaços abertos na relação entre a casa e o meio marítimo.