A abordagem do objeto convencional do campo da arquitetura transcende o âmbito de ação do design - sempre mais interessado na configuração formal - para influenciar propósitos conceituais. Tal incidência e sua evolução constituem o objeto de estudo desta tese, que visa aprofundar a compreensão do objeto do cotidiano e sua conceituação como ferramenta disciplinar a partir de seis casos distintos - três do mundo da arte e três da arquitetura, agrupados por casais e épocas - num período de sessenta anos, de 1913 a 1973. A hipótese apresentada propõe que o tratamento dado ao tema e sua transformação em sujeito artístico ou arquitetônico é capaz de refletir e sintetizar as mudanças que os protagonistas deste pesquisa que eles experimentaram em sua práxis.
A estrutura em que esta pesquisa é desenvolvida é tripartite, segmentada em três períodos bem definidos geográfica e cronologicamente. O passeio começa com os exercícios de Marcel Duchamp e Le Corbusier em Nova York e Paris e a definição particular de dois recursos disciplinares entre 1913 e 1929, o ready-made e o objet-type. Após uma breve passagem pelo objeto surrealista, a história posteriormente viaja pela Inglaterra da década de 1950 com a exposição e as obras espaciais de Richard Hamilton e Alison & Peter Smithson, juntos e separadamente, e fecha em sua última seção na Costa Leste do Estados Unidos e entre as décadas de 1960 e 1970 para estudar, em paralelo ao surgimento da Pop art, a atividade de Andy Warhol e Robert Venturi. Dos objetos em edifícios aos edifícios como objetos, nesta evolução pode-se perceber como os mecanismos intelectuais que permitiam incorporar a ferramenta cotidiana ao mundo da arte acabaram sendo transferidos - com as nuances obrigatórias - para a arquitetura, de tal forma que ela passou de um mero ressonador formal segregado da práxis para o tema integrado na disciplina. Assim, o programa de vanguarda, que nada mais era do que dissolver a segregação entre arte e vida, foi realizado com grandes mictórios, lâmpadas e anúncios, meios tão insuspeitados quanto modestos.
Em resposta a essas duplas de artistas e arquitetos, entre cada uma dessas três partes, são propostos breves capítulos de transição, em forma de dobradiça, que refletem as alterações teóricas e críticas exemplificadas, igualmente, em figuras específicas associadas a cada um dos campos de estudo: Clement Greenberg e Hans Sedlmayr com Sigfried Giedion na primeira parte; Lawrence Alloway e Reyner Banham no segundo e, por fim, Jean Baudrillard e Charles Jencks, no final e como uma espécie de epílogo. É o fim do caminho que vai desde as primeiras considerações sobre a autonomia disciplinar e o ready-made à imbricação social do objeto comum que representa o ad-hoc-ismo preconizado por este último autor.
Apesar do enfoque específico nessas figuras e obras, a condição paradigmática dos exemplos escolhidos também nos permite interpretar as transformações aqui exploradas de uma perspectiva mais ampla do que a do caso particular. Por meio desses mecanismos que unem e separam o artístico e o convencional, e sua interação com outras áreas da cultura e dos meios de comunicação, é possível estudar, antes de tudo, a imagem de si que a arte e a cultura desejam projetar.