Em meados dos anos sessenta, em plena ebulição cultural, uns jovens arquitetos italianos acabados de sair da universidade enfrentam a profissão desde uma perspetiva mais teórico-crítica – com documentos escritos, exposições e performance – que, desde o mundo da construção, adota meios que, em alguns casos, iam além do âmbito disciplinar. Em 1973, o crítico de arte Germano Celant define os seus trabalhos com o termo de “Arquitetura Radical”. Em 1969, alguns dos grupos radicais apresentam um trabalho com conotações claramente visionárias, apresentando a proposta de um projeto limite das possibilidades da arquitetura: o Monumento Contínuo do Superstudio.
Na maioria das antologias ou monografias, apresentam-se as fotomontagens ou o storyboard de forma independente, nunca num discurso conjunto que analisa os três projetos: as fotomontagens, a Grazerzimmer e o storyboard. Estes - que correspondem aos três capítulos principais da tese– são uma montagem dinâmica de partes heterogéneas, como se se tratasse de um sistema de caixas chinesas que se abrem sobre vários argumentos. Cada uma destas representações propõe diferentes olhares, de tal maneira que a ideia desta arquitetura uniforme, contínua e repetitiva não representa uma arquitetura dentro da qual habitar, mas fala-nos, sim, do território onde habitamos, do espaço continuamente construível e da arquitetura como disciplina crítica.
A investigação tenta oferecer outra visão que não contradiz as teses e os métodos estabelecidos pela crítica: é um projeto da Arquitetura Radical e pode-se interpretar como um projeto distópico. Esta investigação proporciona outra forma de olhar que se quis afastar do contexto crítico dominante. Mostra que, fora das definições categóricas, talvez seja possível descobrir outros limiares, que abrem a obra para novas interpretações.
Deste modo, aprecia-se como as fotomontagens questionam o significado de monumento com uma arquitetura flexível, repetitiva e nómada. O conceito de não-lugar, que mostra lugares estereotipados como parte de uma geografia turística. A reconsideração do significado de sublime, como sentimento ambivalente, com uma arquitetura etérea, serena, mas também inquietante, que está em sintonia e, ao mesmo tempo, em contraste com o contexto.
A efémera Grazerzimmer, da qual restam poucos documentos e quase nenhuma investigação contemporânea, questiona o conceito de habitar e, ao mesmo tempo – através de um documento escrito que a acompanha – trata as diferentes escalas do território com uma arquitetura sem escala; respeitante à multiplicidade dos espaços que se sobrecarregam de reminiscências.
O storyboard é um grande catálogo que revê a história da arquitetura. Mostra lugares da memória, espaços da imaginação, lugares reais, espaços metafísicos, utópicos e distópicos, mas também diferentes tempos. Um tempo que nunca é contínuo, mas sim retalhado, suspenso, intermitente. Uma teia de narrações, um hipertexto que nos move num constante vaivém de espacialidades e temporalidades.
O Monumento Contínuo que, na sua época, questionava a arquitetura sem aspirar a convencer, mas apenas a provocar, pelo contrário, propõe outra maneira de pensar e de recorrer à praxe do projeto.
Estes argumentos, que brotam de uma ótica contemporânea, não foram considerados até agora. De modo que a investigação projeta uma interpretação nova que facilita novas chaves de leitura da obra, assim como a evolução destes conceitos no contexto atual. Estabelece novos instrumentos para uma crítica contemporânea que situa o projeto no debate arquitetónico atual. Os argumentos que emergem contribuem ativamente para compreender o processo de continuidade e descontinuidade do tempo moderno. Muitas questões contemporâneas surgiram justamente neste intervalo, que, como uma dobradiça, continua a unir e agitar ambos os períodos.