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Concurso Público para Elaboração do projeto da Sede do Comité Paralimpico de Portugal, Santo António dos Cavaleiros, Loures, Portugal, 2023

“Qualquer edifício ou espaço tem os seus sons característicos de intimidade ou monumentalidade, abertura ou fechamento, hospitalidade ou austeridade. Um espaço entende-se e aprecia-se tanto pelo seu eco como pela sua forma visual, mas a perceção acústica normalmente permanece como uma experiência de fundo inconsciente.” (Pallasmaa, J., 2006, p. 52)

 

ACESSIBILIDADE E INCLUSÃO | Desde a criação do CPP em 2008, que paralelamente inaugura o Movimento Paralímpico Português com a coordenação da sua primeira Missão Paralímpica Portuguesa em Londres 2012, muito se alterou no que toca à acessibilidade e inclusão em edifícios públicos e privados. O lema criado pela instituição, “Igualdade, Inclusão e Excelência Desportiva” continua a ser estimulado, na medida em que não se fica apenas pela promoção da inclusão e luta pelos direitos dos atletas, mas, fundamentalmente, para o apoio na reabilitação dos atletas para­límpicos.

Pelos motivos apontados desenhar a nova sede do CPP revelou-se, desde o primeiro momento, um desafio ambicioso, mas também uma oportunidade única para revolucionar a forma como todos devemos olhar para a arquitetura e para o espaço público, revelando a fundamental intervenção dos projetistas. O edifício proposto ladeia um grande espaço verde, pontuado por um tanque, que se abre à paisagem em forma de miradouro. É projetado com vista ao usufruto de todos, independentemente da condição física, etária, espiritual, social e/ou económica. Promovem-se arquiteturas que convidam a entrar, encaminham, permitem contemplar, permanecer e que é reveladora do espaço em todas as suas dimensões. Posto isto a proposta propõe que se promova não só a mobilidade universal a todos os espaços, mas também a orientação, através da utilização de pisos táteis, que criam linguagens de referência através da criação de um sistema de mapas integrada e extensível a todos os pavimentos. Os espaços funcionais foram orientados ao redor de um pátio central, favorecendo uma circulação eficiente e minimizando o efeito labiríntico no interior da casa. Procuramos organizar os espaços de forma intuitiva. Cada uso e atividade diária foram transformados num ponto de referência no mapa de conjunto do edifício. O projeto pode ser lido através de uma série de filtros táteis que atravessam todo o edifício. Estes são marcados no pavimento e interrompidos sempre que se dê a ocorrência de vãos de acesso ao interior dos espaços dos diferentes programas.

O jardim central conta com grandes superfícies texturizadas, que constroem percursos e remetem para relatos figurativos e abstratos sobre temas vinculados à vegetação, orientação solar e à presença da água no espaço. É proposta a plantação de vegetação arbustiva diferenciada na periferia do espaço verde e junto ao edifício que atuam como sensores que auxiliam a orientação dos usuários no interior do pátio. Para tornar o edifício o mais inclusivo possível foram propostos materiais com vários níveis de rugosidade, tanto nas paredes como em pavimentos, diferentes níveis de iluminação, tons distintos e acrescentou-se ainda caracter pela presença da vegetação e da água no espaço central.

 

ESTRATÉGIA | Como estratégia estabelecem-se dois acessos públicos fundamentais em relação a duas cotas distintas no contexto da envolvente. Um deles ao nível da via pública e privilegia a relação com do bairro. Este estabelece-se junto ao limite norte do lote, junto ao cruzamento entre a Rua José Pedro Lourenço e a Rua Mário de Sá Carneiro. O outro, contempla um acesso por rampa que possibilita o acesso a pessoas com mobilidade reduzida em toda a extensão do alçado sul que confronta com a Rua 4 de Outubro. Aqui implementa-se também o acesso ao estacionamento em cave e a ligação aos principais eixos viários a nível local, regional, nacional e internacional, fundamentais para a implementação do edifício neste local.

O aproveitamento da inclinação do lote permite a hierarquização do programa em função da necessidade de acessos pedonais e viários, sendo o programa institucional implementado em função das necessidades de cada espaço, orientação solar e vistas em relação à envolvente, com a paisagem a revelar-se de forma plena apenas no enfiamento do vale, que progride em direção à várzea e se espraia em função da linha de água à cota baixa. A estabilização e afetação da cota alta ao programa institucional permite maior exposição solar e domínio em relação à paisagem que se desenvolve a sul. Em paralelo esta estratégia responde positivamente à necessidade de afastamento em relação ao ruído provocado pelo tráfego diário que atravessa o local. A norte privilegiam-se as relações de proximidade com o bairro e os acessos de nível necessários para apoio das cargas e descargas afetas ao funcionamento e atividade dos diferentes espaços estabilizados à cota superior.

 

PROGRAMA | Os núcleos programáticos funcionam de forma autónoma, permitindo que os vários espaços possam ser encerrados sem implicação dos restantes. A cafetaria associa-se a todos eles e cria a dinâmica necessária para estimular a estadia prolongada no exterior. A esta é associado um tanque onde é possível sentar e contemplar (alusão às antigas quintas de recreio presentes neste território). Este elemento de fresco possibilita ainda a amenização térmica do espaço e revela o sistema de recolha das águas pluviais das coberturas inclinadas, com o excedente de água a ser armazenado em reservatório no piso inferior para irrigação das áreas ajardinadas.

No piso inferior desenvolve-se o estacionamento, com ligação à cota alta através de dois núcleos de escadas e elevadores estrategicamente colocados. Adoçada ao limite sul configura-se uma extensa rampa que permite a ligação entre os pisos e a via pública, sugerindo-se, junto desta, um ponto de paragem para transportes públicos. Dada a extensão da operação, é proposta a possibilidade de encerramento parcial ou total do conjunto para controlo de acessos.

O desenho da cobertura inclinada do edifício gera coerência e relações estéticas agradáveis desde o interior e exterior do conjunto e, em paralelo serve o aproveitamento das águas pluviais necessárias à rega dos espaços verdes com vista à implementação de estratégias que visem a eficiência e sustentabilidade do conjunto, através da diminuição dos custos associados à rega e lavagem dos espaços exteriores.

Na transição entre o exterior e o interior estabelece-se um percurso perimetral, comum a todo o conjunto, que se desenvolve através de galeria coberta, que torna possível o acesso confortável entre as várias áreas do programa, independentemente das condições meteorológicas verificadas. Em complemento a este acesso estabelecem-se atravessamentos informais ao longo do espaço verde que aproximam os diferentes espaços através dos caminhos implementados, construídos com recurso a lajes de basalto (pedra natural existente na área de intervenção) com as juntas a serem colmatadas para que a circulação seja fluente e agradável.

Excecional ao desenho do conjunto, apresenta-se a cafetaria, localizada junto ao acesso público por rampa. Estabelece uma relação privilegiada com os restantes espaços programáticos por forma a servi-los sem hierarquia. Esta é caracterizada por um volume autónomo, disposto em relação à paisagem e em diálogo com o tanque – elemento de fresco – que dinamiza o espaço pela presença da água e auxilia o equilíbrio térmico nos espaços exteriores que se destinam à permanência prolongada.

A poente, entre os dois acessos públicos ao edifício, encontramos o átrio/receção que contem a área expositiva destinada a receber o espólio do CPP e dá acesso à biblioteca que poderá integrar um núcleo de investigação com o intuito de produzir documentação científica relacionada com as atividades promovidas pelo Movimento Paralímpico Português. A norte localiza-se a área de serviços, composta por espaços livres que permitem a reorganização do espaço em função das necessidades sempre que necessário. Aqui as diferentes salas apresentam-se de forma sequencial contendo ainda assim acessos autónomos desde o exterior, o que amplia a diversidade dos usos. A nascente desenvolve-se o auditório, com capacidade para 100 lugares sentados, dos quais 80 sentados e 20 lugares destinados a receber pessoas com mobilidade condicionada. Da sala principal é possível aceder à zona de cargas e descargas que se localiza a norte. A planta livre da sala principal permite a realização de diferentes atividades e a realização dos mais diversos eventos públicos e, daqui é possível aceder diretamente à área destinada a cargas e descargas localizada no topo norte.

Por fim, a sul, implementaram-se as áreas destinadas ao tratamento e reabilitação dos atletas. Neste bloco localizam os vestiários/balneários, o gabinete médico, o gabinete de fisioterapia e a área de reabilitação com hidroterapia. Todos os espaços projetados promovem a ventilação/iluminação natural, funcionam agrupados por programa para que possam funcionar em conjuntou ou de forma autónoma e mantêm uma relação privilegiada com o grande espaço verde contido no interior do conjunto. E importa também referir que existe uma franca e clara relação com a via pública, quer através dos diferentes percursos e atravessamentos pedonais existentes, quer através dos vários pontos de acesso por escada e/ou elevador que desembocam no estacionamento em cave. Neste piso localizam-se ainda o armazém e a casa dos lixos com acesso direto à via pública e o acesso ao depósito de água para que seja fácil a sua monotorização e manutenção.

Em síntese a proposta procura criar ambientes confortáveis, intuitivos, seguros e estimulantes que traduzam o essencial no desenho do espaço e definem com clareza as necessidades básicas do ser humano, ao provocar neste a vontade de se auto realizar.

Participaciones en arquia / próxima

IX Edición 2022-2023