BAIRRO DAS JANELAS VERDES | O Bairro das Janelas Verdes representa (na forma que Eça de Queiroz é mestre) mais do que localização ou palácio, “um tipo social”. Lugar de famílias antigas, recebe a corte vinda do Brasil no séc. XVIII e torna-se num dos bairros históricos mais qualificados de Lisboa. Além do interesse social e arquitetónico (que interessa à caracterização d’Os Maias), encontram-se aqui várias embaixadas e edifícios públicos instalados em casas nobres ou conventos, como o Museu de Arte Antiga. Até ao início da pandemia, o bairro anima-se pelo interesse turístico e aparecimento de lojas de design, escolas de arte e espaços de exposições.
PROGRAMA | A “Casa das Janelas Verdes” trata a reconversão para habitação permanente de um desses espaços que ficou desocupado – a galeria de arte “Shiki Miki”- localizada no piso térreo, de um edifício de arquitetura corrente dos anos 60, projetado pelo Arq. José Marques de Brito, conforme consulta ao Arquivo Municipal de Lisboa.
AMBIENTE EXTERIOR | Pelo exterior conservaram-se as cantarias existentes e adaptou-se o desenho da caixilharia ao novo uso, que se apresenta agora recuada em relação ao plano da fachada e com janelas oscilo-batentes, o que confere maior segurança, privacidade, ventilação, proteção térmica e acústica. Toda a estrutura é pintada à cor verde-escuro e, no espaço sobrante, integraram-se floreiras para plantação de aromáticas, em referência aos valores arquitetónicos do local.
AMBIENTE INTERIOR | Pelo interior a intervenção foi bastante pontual e direcionada para a contenção de custos. Manteve-se a estrutura portante do edifício, a localização dos quadros técnicos, os pontos de água existentes e privilegiou-se o emprego de materiais nobres como a madeira ou a pedra natural.
Na transição para o interior e ligação privilegiada à rua, no espaço mais exposto, iluminado e ventilado da habitação surge a cozinha, que funciona também como átrio. Aqui a presença e delicadeza do desenho do corrimão metálico pintado a verde, que acompanha o acesso por escada ao piso inferior, estabelece a última relação com a rua e ambiente característico do bairro e serve a transição entre os espaços social e privado.
Na transição, o plano de parede que acompanha o acesso por escada desenvolve-se em curva e revela o piso inferior. E, por fim, junto ao acesso à instalação sanitária acomodaram-se as áreas técnicas e os arrumos, ambos ocultos por cortina. Na instalação sanitária procurou ampliar-se o espaço de duche e conferir conforto ao espaço, pelo uso dos armários em madeira e bancada em pedra natural.
Neste piso o restante programa distribui-se em planta livre. As aberturas são reduzidas e todos os planos de pavimento e parede são pintados a branco. Esta opção possibilita a reflexão da luz no espaço, sem comprometer a privacidade. Nos espaços vazios, entre a estrutura, adicionam-se armários, privilegiando a fruição livre pelo espaço, diminuindo os elementos dissonantes. No futuro, caso exista necessidade, podem adicionar-se cortinas para separação dos espaços, conforme indicado em projeto.