CONSTRUIR COM A PAISAGEM | Construída e reconstruída, a paisagem do Alentejo responde às mais diversas necessidades. Ao longo dos declives desenvolvem-se muros de pedra seca tradicionais, que em constante adaptação à topografia resultam numa rede articulada, paralela às curvas de nível para recolher as águas. Combinam-se com muros de divisão de propriedade ou marcação de caminhos com várias funções: suporte de terras, drenagem e armazenamento de águas ou limitação de caminhos e veredas, muitas delas para encaminhamento dos rebanhos. A estes associam-se abrigos, habitações ou apoios rurais onde é comum encontrar-se harmonia entre as formas, reveladora do sentido de proporção. As atividades realizadas no interior dos espaços prolongam-se para o exterior, articulando a arquitetura com a sua envolvente. E, as habitações, maioritariamente térreas, apresentam volumetrias fortemente horizontalizadas, onde o branco da cal – insubstituível - tudo cobre e valoriza. Pela luz que irradia, pela espessura que permite proteger interiores e exteriores ou pelas caiações irregulares, que conferem aos aglomerados rurais ou urbanos um certo ar de família. Neste tipo de abordagem o lugar é entendido como um território comum que vai para além do património arquitetónico. As construções respondem não só ao programa como aos desafios do clima, à relação com vegetação existente, aos sistemas de vistas e desenvolvem-se em confronto direto com o relevo. Recorrendo a saberes e métodos construtivos que ultrapassam gerações utilizam maioritariamente materiais tradicionais, o que acaba por ativar as pequenas economias locais. Tal como nas construções mais antigas, pode-se afirmar que o novo edifício será sempre uma consequência do lugar. Ao preservar a memória construtiva da envolvente permite que a população se relacione facilmente com a nova construção, contribuindo para a manutenção das nossas paisagens culturais.
ESTRATÉGIA GERAL | Na proximidade com o cemitério municipal a área de implantação é dominada por grandes declives, o que permite tirar partido da relação visual, totalmente exposta a nascente-poente e sul, proporcionando boa exposição solar ao edifício proposto.
No desenvolvimento das vertentes, abaixo do acesso viário, está plantado o olival, que é delimitado por muros de xisto, construídos em pedra seca sobreposta, conjunto que se pretendem preservar, integrar e valorizar com a presente proposta.
Promovem-se estratégias de intervenção pontuais e pouco intrusivas que adicionam valor a toda a área de intervenção.
O percurso proposto inicia-se no miradouro contíguo ao cemitério municipal. De forma a minimizar os efeitos visuais das infraestruturas existentes, preservando o potencial da estadia neste local propõe-se a integração do PT no novo muro do miradouro ou a possível relocalização deste e da antena associada junto de outra que se situa a nascente da área de intervenção. Estas opções permitem equilibrar a valorizar do espaço público com a minimização dos custos associados à intervenção.
A partir daqui é possível aceder à cota intermédia do estacionamento através do corpo de escadas público proposto ou acedendo através dos passeios que ladeiam a nova alameda, potenciando a acessibilidade pedonal entre os diferentes espaços e cotas da intervenção.
A construção do edifício é concentrada num único ponto da área de intervenção, de forma a responder eficazmente ao PDM de Barrancos que protege a área verde existente e a liberta totalmente de novas construções.
Desconhecendo-se a localização precisa do traçado da conduta adutora, prevê-se que o edifício se implante paralelo à mesma. Existindo conflito entre ambos será avaliada a deslocação da nova construção garantindo fácil acesso à conduta adutora.
ESPAÇOS EXTERIORES | A solução proposta contempla três níveis de intervenção: estacionamento e acessos – construção de pavimentos, muros de suporte, introdução de forte arborização para a contrariar o efeito de “ilha de calor” e atenuar o impacto visual das áreas de estacionamento e reservatórios de água existentes; valorização da envolvente do edifício - tratamento mais cuidado e intensivo; valorização da área verde existente: com intervenção moderada, para preservar a morfologia do terreno e o coberto arbóreo existente (olival). Propõe-se ainda equipar o espaço com mobiliário urbano, áreas de sombreamento em pérgula e reforço do coberto vegetal ao nível arbustivo, nas zonas de estadia para valorização ecológica e estética.
ESTACIONAMENTO E ACESSOS | O estacionamento dispõe-se longitudinalmente ao longo do acesso viário, intercalado por vegetação. As árvores são desencontradas para que as copas se complementem na mancha de sombreamento.
Acompanhando o estacionamento em toda a sua extensão, desenvolve-se um percurso panorâmico, numa cota intermédia em relação ao cemitério e olival que conduz até ao novo edifício. Junto à base do muro de suporte desenvolve-se o acesso à entrada de serviço do edifício, também acompanhado por estacionamento com arborização.
No conjunto, esta árvores constituem-se como único maciço que controlam o impacto visual do muro do cemitério e dos reservatórios de água. Surgem algumas extensões, enquadrando a antena de telecomunicações presente no terreno, envolvendo a praça na cobertura do edifício e alongando-se até ao limite do muro do cemitério. É proposta iluminação pública com luminárias espaçadas que permitem orientar a circulação na via com o mínimo conforto, sem causar impacte visual desde outras áreas do aglomerado.
ENVOLVENTE DO EDIFÍCIO | A praça que se desenvolve na cobertura do edifício contem iluminação pública de baixo impacto visual, bancos e papeleiras e, a arborização oferece abrigo do vento e do sol. Os pavimentos exteriores são em xisto, com juntas abertas, promovendo a infiltração da água nos solos. Apesar dos declives e solo rochoso são promovidos acessos de nível aos diferentes espaços do edifício, melhorando as condições de acessibilidade em toda a área de implantação. São ainda propostas caleiras laterais, rebaixadas, que possibilitam o encaminhamento do excedente das águas para os terrenos confinantes.
VALORIZAÇÃO DAS ÁREAS VERDES | Procura-se manter o essencial da encosta atualmente ocupada pelo olival, estabelecendo um mínimo de circulações e equipamentos, com reforço do coberto vegetal que proporciona o uso confortável e aprazível do espaço verde. No percurso, com declives na ordem dos 5% , são propostos dois locais de retiro sombreados por pérgula e bancos pontuais.
A iluminação é feita por balizadores espaçados, com orientação suficiente para um percurso regular e sem obstáculos.
Em termos de coberto, preserva-se a maioria das oliveiras existentes, relocalizando casos pontuais (5 oliveiras). No ponto mais baixo do talvegue introduzem-se ciprestes ou choupos colunares, assim como maciços arbustivos que respondem aos seguintes propósitos: introdução de diversidade ecológica, suporte de fauna, variação de aroma, cromatismo e sazonalidade e interceção da escorrência, com pequenas bacias de infiltração. Esta plantação recorre a vegetação espontânea, da flora mediterrânica ou naturalizada, com capacidade de a subsistir sem rega. Prevê-se, ainda a instalação de um sistema de rega localizada que assegura a manutenção e potencia o crescimento inicial, que poderá ser removido posteriormente.
ARQUITETURA | O edifício desenvolve-se em relação e adaptação aos declives do terreno existente.
No piso térreo propõe-se um embasamento em xisto a toda a altura, o que permite diminuir os custos de manutenção/conservação associados a um equipamento público e paralelamente aumentar a resistência mecânica das paredes exteriores.
Destacam-se na cota superior apenas os corpos brancos que anunciam o “poço de luz” que ilumina a sala de espera e as coberturas das duas capelas funerárias – nascente e poente.
Á cota alta propõem-se espaços que estimulam maioritariamente o encontro e a concentração de um maior número de pessoas, mais públicos/abertos à paisagem. E, à medida que progredimos em direção à cota baixa os espaços passam a encaixar-se no terreno, tornando-se privados e encerrados em relação à envolvente com ambientes que convidam ao silêncio e introspeção. Os acessos ao interior do edifício estão igualmente hierarquizados entre público e de serviço.
Todos os espaços principais são abertos ao exterior e iluminados naturalmente o que permite a redução dos consumos energéticos e ventilação natural.
O átrio/sala de espera, tem uma localização central no espaço. Funciona como espaço de estar, mas também de distribuição entre o programa público (instalações sanitárias, copa e capelas) e o programa de serviço (arrumos, áreas técnicas e área dedicada ao responsável do culto).
Nas capelas, intensifica-se a carga simbólica pela dinâmica da iluminação natural, que percorre o espaço de forma diferenciada ao longo do dia, todos os dias do ano.
De forma a acolher 60 utentes sentados em cada uma delas inclui-se no espaço mobiliário individual possibilitando diferentes ocupações do mesmo e união das duas capelas através do sistema de abertura de portas proposto.