ACESSIBILIDADE E INCLUSÃO | Desde a criação do CPP em 2008, que paralelamente inaugura o Movimento Paralímpico Português com a coordenação da sua primeira Missão Paralímpica Portuguesa em Londres 2012, muito se alterou no que toca à acessibilidade e inclusão em edifícios públicos e privados. O lema criado pela instituição, “Igualdade, Inclusão e Excelência Desportiva” continua a ser estimulado, na medida em que não se fica apenas pela promoção da inclusão e luta pelos direitos dos atletas, mas, fundamentalmente, para o apoio na reabilitação dos atletas paralímpicos.
Pelos motivos apontados desenhar a nova sede do CPP revelou-se, desde o primeiro momento, um desafio ambicioso, mas também uma oportunidade única para revolucionar a forma como todos devemos olhar para a arquitetura e para o espaço público, revelando a fundamental intervenção dos projetistas. O edifício proposto ladeia um grande espaço verde, pontuado por um tanque, que se abre à paisagem em forma de miradouro. É projetado com vista ao usufruto de todos, independentemente da condição física, etária, espiritual, social e/ou económica. Promovem-se arquiteturas que convidam a entrar, encaminham, permitem contemplar, permanecer e que é reveladora do espaço em todas as suas dimensões. Posto isto a proposta propõe que se promova não só a mobilidade universal a todos os espaços, mas também a orientação, através da utilização de pisos táteis, que criam linguagens de referência através da criação de um sistema de mapas integrada e extensível a todos os pavimentos. Os espaços funcionais foram orientados ao redor de um pátio central, favorecendo uma circulação eficiente e minimizando o efeito labiríntico no interior da casa. Procuramos organizar os espaços de forma intuitiva. Cada uso e atividade diária foram transformados num ponto de referência no mapa de conjunto do edifício. O projeto pode ser lido através de uma série de filtros táteis que atravessam todo o edifício. Estes são marcados no pavimento e interrompidos sempre que se dê a ocorrência de vãos de acesso ao interior dos espaços dos diferentes programas.
O jardim central conta com grandes superfícies texturizadas, que constroem percursos e remetem para relatos figurativos e abstratos sobre temas vinculados à vegetação, orientação solar e à presença da água no espaço. É proposta a plantação de vegetação arbustiva diferenciada na periferia do espaço verde e junto ao edifício que atuam como sensores que auxiliam a orientação dos usuários no interior do pátio. Para tornar o edifício o mais inclusivo possível foram propostos materiais com vários níveis de rugosidade, tanto nas paredes como em pavimentos, diferentes níveis de iluminação, tons distintos e acrescentou-se ainda caracter pela presença da vegetação e da água no espaço central.
ESTRATÉGIA | Como estratégia estabelecem-se dois acessos públicos fundamentais em relação a duas cotas distintas no contexto da envolvente. Um deles ao nível da via pública e privilegia a relação com do bairro. Este estabelece-se junto ao limite norte do lote, junto ao cruzamento entre a Rua José Pedro Lourenço e a Rua Mário de Sá Carneiro. O outro, contempla um acesso por rampa que possibilita o acesso a pessoas com mobilidade reduzida em toda a extensão do alçado sul que confronta com a Rua 4 de Outubro. Aqui implementa-se também o acesso ao estacionamento em cave e a ligação aos principais eixos viários a nível local, regional, nacional e internacional, fundamentais para a implementação do edifício neste local.
O aproveitamento da inclinação do lote permite a hierarquização do programa em função da necessidade de acessos pedonais e viários, sendo o programa institucional implementado em função das necessidades de cada espaço, orientação solar e vistas em relação à envolvente, com a paisagem a revelar-se de forma plena apenas no enfiamento do vale, que progride em direção à várzea e se espraia em função da linha de água à cota baixa. A estabilização e afetação da cota alta ao programa institucional permite maior exposição solar e domínio em relação à paisagem que se desenvolve a sul. Em paralelo esta estratégia responde positivamente à necessidade de afastamento em relação ao ruído provocado pelo tráfego diário que atravessa o local. A norte privilegiam-se as relações de proximidade com o bairro e os acessos de nível necessários para apoio das cargas e descargas afetas ao funcionamento e atividade dos diferentes espaços estabilizados à cota superior.
PROGRAMA | Os núcleos programáticos funcionam de forma autónoma, permitindo que os vários espaços possam ser encerrados sem implicação dos restantes. A cafetaria associa-se a todos eles e cria a dinâmica necessária para estimular a estadia prolongada no exterior. A esta é associado um tanque onde é possível sentar e contemplar (alusão às antigas quintas de recreio presentes neste território). Este elemento de fresco possibilita ainda a amenização térmica do espaço e revela o sistema de recolha das águas pluviais das coberturas inclinadas, com o excedente de água a ser armazenado em reservatório no piso inferior para irrigação das áreas ajardinadas.
No piso inferior desenvolve-se o estacionamento, com ligação à cota alta através de dois núcleos de escadas e elevadores estrategicamente colocados. Adoçada ao limite sul configura-se uma extensa rampa que permite a ligação entre os pisos e a via pública, sugerindo-se, junto desta, um ponto de paragem para transportes públicos. Dada a extensão da operação, é proposta a possibilidade de encerramento parcial ou total do conjunto para controlo de acessos.
O desenho da cobertura inclinada do edifício gera coerência e relações estéticas agradáveis desde o interior e exterior do conjunto e, em paralelo serve o aproveitamento das águas pluviais necessárias à rega dos espaços verdes com vista à implementação de estratégias que visem a eficiência e sustentabilidade do conjunto, através da diminuição dos custos associados à rega e lavagem dos espaços exteriores.
Na transição entre o exterior e o interior estabelece-se um percurso perimetral, comum a todo o conjunto, que se desenvolve através de galeria coberta, que torna possível o acesso confortável entre as várias áreas do programa, independentemente das condições meteorológicas verificadas. Em complemento a este acesso estabelecem-se atravessamentos informais ao longo do espaço verde que aproximam os diferentes espaços através dos caminhos implementados, construídos com recurso a lajes de basalto (pedra natural existente na área de intervenção) com as juntas a serem colmatadas para que a circulação seja fluente e agradável.
Excecional ao desenho do conjunto, apresenta-se a cafetaria, localizada junto ao acesso público por rampa. Estabelece uma relação privilegiada com os restantes espaços programáticos por forma a servi-los sem hierarquia. Esta é caracterizada por um volume autónomo, disposto em relação à paisagem e em diálogo com o tanque – elemento de fresco – que dinamiza o espaço pela presença da água e auxilia o equilíbrio térmico nos espaços exteriores que se destinam à permanência prolongada.
A poente, entre os dois acessos públicos ao edifício, encontramos o átrio/receção que contem a área expositiva destinada a receber o espólio do CPP e dá acesso à biblioteca que poderá integrar um núcleo de investigação com o intuito de produzir documentação científica relacionada com as atividades promovidas pelo Movimento Paralímpico Português. A norte localiza-se a área de serviços, composta por espaços livres que permitem a reorganização do espaço em função das necessidades sempre que necessário. Aqui as diferentes salas apresentam-se de forma sequencial contendo ainda assim acessos autónomos desde o exterior, o que amplia a diversidade dos usos. A nascente desenvolve-se o auditório, com capacidade para 100 lugares sentados, dos quais 80 sentados e 20 lugares destinados a receber pessoas com mobilidade condicionada. Da sala principal é possível aceder à zona de cargas e descargas que se localiza a norte. A planta livre da sala principal permite a realização de diferentes atividades e a realização dos mais diversos eventos públicos e, daqui é possível aceder diretamente à área destinada a cargas e descargas localizada no topo norte.
Por fim, a sul, implementaram-se as áreas destinadas ao tratamento e reabilitação dos atletas. Neste bloco localizam os vestiários/balneários, o gabinete médico, o gabinete de fisioterapia e a área de reabilitação com hidroterapia. Todos os espaços projetados promovem a ventilação/iluminação natural, funcionam agrupados por programa para que possam funcionar em conjuntou ou de forma autónoma e mantêm uma relação privilegiada com o grande espaço verde contido no interior do conjunto. E importa também referir que existe uma franca e clara relação com a via pública, quer através dos diferentes percursos e atravessamentos pedonais existentes, quer através dos vários pontos de acesso por escada e/ou elevador que desembocam no estacionamento em cave. Neste piso localizam-se ainda o armazém e a casa dos lixos com acesso direto à via pública e o acesso ao depósito de água para que seja fácil a sua monotorização e manutenção.
Em síntese a proposta procura criar ambientes confortáveis, intuitivos, seguros e estimulantes que traduzam o essencial no desenho do espaço e definem com clareza as necessidades básicas do ser humano, ao provocar neste a vontade de se auto realizar.