A globalização intensificou a incerteza e a complexidade diante das mudanças produzidas pelo aumento de eventos imprevisíveis, como a emergência climática, a desigualdade social, a obsolescência tecnológica e as crises econômicas, energéticas ou de saúde. A resiliência tornou-se um objetivo essencial para as cidades, pois permite enfrentar positivamente os efeitos da globalização e, dessa forma, contribuir para o desenvolvimento sustentável nas esferas ambiental, socioeconômica e política. Embora existam diversos estudos científicos sobre resiliência na esfera urbana, o mesmo não ocorre no campo específico da arquitetura. Esta investigação propõe uma teorização da arquitetura resiliente mediante uma metodologia de teoria fundamentada, com base na análise de oito estudos de caso selecionados de três escritórios de arquitetura europeus: o estúdio finlandês Ilo, a cooperativa espanhola de arquitetos Lacol e o escritório francês Bruther.
Através de uma revisão bibliográfica do conceito geral de resiliência, extraem-se algumas premissas heurísticas para a investigação da arquitectura resiliente, ligadas ao planeamento da indeterminação e à evolução dos sistemas dinâmicos, e especificam-se três classes de sistemas dinâmicos sócio-espaciais que desenvolvem diferentes processos ao longo do tempo: frágil, resistente e resiliente. A prática dos escritórios de arquitetura Lacaton & Vassal e Elemental também é avaliada como referências contemporâneas que ajudam a orientar a investigação dos estudos de caso selecionados e ajudam a definir as propriedades da arquitetura resiliente.
Os resultados da análise dos oito estudos de caso configuram um espectro de sistemas arquitetônicos resilientes e exemplificam diferentes práticas construtivas baseadas no planejamento da indeterminação espacial. Conclui-se que a arquitetura resiliente promove um desenvolvimento positivo para as cidades ao enfrentar incertezas e circunstâncias adversas, evitando a obsolescência do edifício e oferecendo uma melhor qualidade de vida aos cidadãos. Com base nos resultados, foram estabelecidas três categorias de espaços indeterminados (raw space, slack space e freespace), que desenvolvem as propriedades resilientes de persistência, adaptação e transformação e, com isso, facilitam a mudança de uso e a evolução espacial dos edifícios ao longo do tempo, oferecendo maior liberdade de apropriação aos seus habitantes. Por fim, são identificadas 17 características que se integram nas dimensões espacial, social e temporal da arquitetura resiliente: proatividade, participação, diversidade, autoconstrução, autogestão, auto-organização, autossuficiência, realimentação, potencialidade, evolucionabilidade, opcionalidade, sobredimensionamento, redundância, inteligibilidade, operacionalidade, polivalência e não linearidade.